Resultado do referendo é uma vitória sobre o medo<br>– afirma o PCP

Image 20735

O re­sul­tado do re­fe­rendo no Reino Unido é uma «opor­tu­ni­dade para se re­solver os pro­blemas dos povos», sa­li­entou João Fer­reira, membro do CC do PCP, numa de­cla­ração apre­sen­tada, dia 24, que a se­guir se trans­creve na in­tegra:

«A vi­tória da saída da União Eu­ro­peia no re­fe­rendo re­a­li­zado no Reino Unido cons­titui um acon­te­ci­mento de enorme mag­ni­tude po­lí­tica para o povo do Reino Unido e também para os povos da Eu­ropa.

Re­pre­senta uma al­te­ração de fundo no pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista na Eu­ropa e um novo pa­tamar de luta da­queles que se batem há dé­cadas contra a União Eu­ro­peia do grande ca­pital e das grandes po­tên­cias, e por uma Eu­ropa dos tra­ba­lha­dores e dos povos.

O povo bri­tâ­nico de­cidiu de forma so­be­rana os des­tinos do seu país. Esse facto não pode senão ser sau­dado e res­pei­tado, tanto mais que este re­fe­rendo se re­a­lizou num quadro de gi­gan­tescas e ina­cei­tá­veis pres­sões e chan­ta­gens, no­me­a­da­mente dos grandes grupos eco­nó­micos trans­na­ci­o­nais e do grande ca­pital fi­nan­ceiro, bem como de or­ga­ni­za­ções como o FMI, a OCDE e a pró­pria União Eu­ro­peia. Este re­sul­tado é, assim, também uma vi­tória sobre o medo, as ine­vi­ta­bi­li­dades, a sub­missão e o ca­tas­tro­fismo.

O PCP saúda em par­ti­cular os co­mu­nistas bri­tâ­nicos e ou­tras forças de es­querda que – re­jei­tando falsas di­co­to­mias e com­ba­tendo dis­cursos re­ac­ci­o­ná­rios e xe­nó­fobos – as­su­miram e afir­maram no re­fe­rendo a voz de­fen­sora dos va­lores da de­mo­cracia, dos di­reitos la­bo­rais e so­ciais, do pro­gresso, da to­le­rância, da so­li­da­ri­e­dade e da co­o­pe­ração entre os povos.

Não ig­no­rando as múl­ti­plas mo­ti­va­ções que es­ti­veram pre­sentes na con­vo­cação deste re­fe­rendo e numa cam­panha mo­vida por ele­mentos de ca­rácter re­ac­ci­o­nário e pela aberta ma­ni­pu­lação po­lí­tica – os quais o PCP com­bate e re­jeita fron­tal­mente –, os re­sul­tados do re­fe­rendo ex­pressam, antes de mais, a re­jeição das po­lí­ticas da União Eu­ro­peia.

A todos aqueles que agora pro­pagam ir­res­pon­sa­vel­mente a ideia de que estes re­sul­tados cons­ti­tuem um de­sen­vol­vi­mento ne­ga­tivo, o PCP afirma que o exer­cício de di­reitos de­mo­crá­ticos e de so­be­rania de um povo não pode ser visto como um pro­blema. Pelo con­trário, o re­fe­rendo bri­tâ­nico é o re­flexo de sé­rios e pro­fundos pro­blemas que já existem há muito e que re­sultam de um pro­cesso de in­te­gração cor­roído de con­tra­di­ções, vi­si­vel­mente es­go­tado e cada vez mais em con­flito com os in­te­resses e justas as­pi­ra­ções dos tra­ba­lha­dores e dos povos.

O re­fe­rendo bri­tâ­nico deve, assim, ser en­ca­rado como uma opor­tu­ni­dade para se en­frentar e re­solver os reais pro­blemas dos povos, ques­ti­o­nando todo o pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista da União Eu­ro­peia e abrindo um novo e di­fe­rente ca­minho de co­o­pe­ração na Eu­ropa, de pro­gresso so­cial e de paz.

Quais­quer me­didas ou ma­no­bras que ig­norem o sig­ni­fi­cado po­lí­tico deste re­fe­rendo, que se re­fu­giem em es­tigmas sobre o povo bri­tâ­nico, que tentem con­tornar ou mesmo per­verter a von­tade da­quele povo ou que apontem para fugas em frente de na­tu­reza anti-de­mo­crá­tica e de maior con­cen­tração de poder ao nível da UE, só con­tri­buirão para o apro­fun­da­mento de pro­blemas e con­tra­di­ções pro­pí­cios ao de­sen­vol­vi­mento de po­si­ções e forças re­ac­ci­o­ná­rias e de ex­trema-di­reita que crescem na Eu­ropa e contra as quais é ne­ces­sário lutar. Forças e po­si­ções que se ma­ni­fes­taram no re­fe­rendo bri­tâ­nico e que se ali­mentam das con­sequên­cias das po­lí­ticas da União Eu­ro­peia cada vez mais an­ti­de­mo­crá­ticas, anti-so­ciais e de opressão na­ci­onal.

Uma vez ini­ciado o pro­cesso de des­vin­cu­lação do Reino Unido da União Eu­ro­peia o PCP su­blinha a ne­ces­si­dade e im­por­tância de me­didas e ac­ções no âm­bito da po­lí­tica ex­terna por­tu­guesa que no novo quadro agora criado ga­rantam os in­te­resses na­ci­o­nais, o pros­se­gui­mento de re­la­ções de co­o­pe­ração eco­nó­mica mu­tu­a­mente van­ta­josas com o Reino Unido e os in­te­resses e di­reitos dos por­tu­gueses a tra­ba­lhar e a re­sidir na­quele país.

O PCP su­blinha que o Con­selho Eu­ropeu do pró­ximo dia 28 e 29 de Junho deve, desde já, lançar as bases para a con­vo­cação de uma ci­meira in­ter­go­ver­na­mental com o ob­jec­tivo da con­sa­gração ins­ti­tu­ci­onal da re­ver­si­bi­li­dade dos Tra­tados, da sus­pensão ime­diata do Tra­tado Or­ça­mental e sua re­vo­gação, bem como da re­vo­gação do Tra­tado de Lisboa.

Num quadro em que se evi­dencia de forma in­con­tor­nável que a União Eu­ro­peia não res­ponde às ne­ces­si­dades dos tra­ba­lha­dores e dos povos, o PCP su­blinha a ne­ces­si­dade de en­frentar co­ra­jo­sa­mente os cons­tran­gi­mentos de­cor­rentes do pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista eu­ropeu e de, si­mul­ta­ne­a­mente, se en­cetar um ca­minho de co­o­pe­ração ba­seado em es­tados so­be­ranos e iguais em di­reitos.

Em par­ti­cular, o PCP re­alça a ur­gência e a ne­ces­si­dade de Por­tugal se pre­parar e estar pre­pa­rado para se li­bertar da sub­missão ao euro, que tantos pre­juízos tem tra­zido ao País, de modo a ga­rantir os di­reitos, o em­prego, a pro­dução, o de­sen­vol­vi­mento e a so­be­rania.»




Mais artigos de: Europa

Rejeição popular da UE<br>do capital

A mai­oria dos elei­tores bri­tâ­nicos votou, dia 23, em re­fe­rendo, pela saída do Reino Unido da União Eu­ro­peia, pro­vo­cando um ver­da­deiro ter­ra­moto po­lí­tico in­terno e ex­terno.

Mudança incerta

As elei­ções le­gis­la­tivas re­a­li­zadas, do­mingo, 26, em Es­panha, man­ti­veram no es­sen­cial o quadro re­sul­tante do su­frágio de 20 de De­zembro, que pôs fim à al­ter­nância PP/​PSOE.

Sobre as eleições em Espanha

Os resultados das eleições em Espanha confirmam a penalização dos partidos que ao longo dos anos têm governado este país. Em particular o PP regista uma perda de 11 pontos percentuais e mais de três milhões de votos, face aos resultados obtidos nas...

Um olhar sobre o Brexit

O resultado do referendo no Reino Unido, ditando a saída deste país da União Europeia, constitui um elemento de enorme significado político. Ao longo das quase sete décadas decorridas desde a assinatura do Tratado de Roma (1957) o processo de...